segunda-feira, outubro 31, 2005


Noite de Saudade

A Noite vem poisando devagar
Sobre aTerra, que inunda de amargura...
E nem sequer a benção do luar
A quis tomar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a noite escura!

Porque é s assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!


Florbela Espanca, Sonetos