quinta-feira, novembro 12, 2009

DEIXOU DE CHOVER

Sempre que chovia,
Ficava por aqui, dentro de mim
Uma sensação estranha
De sentir ao contrário
De viver ao contrário
Dos outros
Porque sempre que chovia
Era como se nascesse em mim
Um contentamento desmedido
Por colher na chuva o alimento
Para mais uns tempos de melancolia
De nostalgia
Era como se a chuva me levasse à beira do abismo
De onde queria cair
Era como se ela alimentasse,
de forma fácil,
Imediata
O estado de tristeza
Que queria ter
Em que queria viver
Talvez para tornar eterno
O meu registo de sempre…
E para mim a chuva era perfeita
Para os outros não, mas para mim era
Até o embaciar dos vidros
Dos carros
Das casas
Para mim era perfeito
Isolava-me, ninguém me via
Isolava-me até,
da minha própria solidão
Mas,
Um dia conheci um homem
Pródigo de palavras,
mas de sentimentos abissais,
Que me fez mudar
Esse gosto insólito
O gosto de gostar da chuva,
Mas, só para ser mais fácil ficar triste
Permanecer triste
Continuar triste
Esse homem
Quase sem nada dizer
Em silêncio até…
Atirou-me uma âncora sem aviso
Passou a fazer-me companhia
Durante toda a noite
Arrancou de mim a solidão
E a necessidade de a sentir
Sem que doesse
E sei lá como..
Sei lá como
A chuva começou a parecer-me apenas chuva
Apenas precedente da bonança
Fenómeno normal de uma estação
Depois de ter conhecido e
De ter comigo esse homem
Já nem sei se chove!

de Olivia Santos


posted by D_Quixote em setembro 12, 2009 06:12 PM in poetry cafe

Sem comentários: